Licença Creative Commons O trabalho Reflexões Refletidas de Fabrício Olmo Aride foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.

sábado, 18 de julho de 1998

Onde Estou

Estou em uma senzala
Faz de mim o que quer
Vivo só para você
Não consigo me libertar

Escravo seu
Escravo de mim
Recíproca escravidão

Estou preso
Na mesma cela que você
Me entreguei
Sem saber que havia cometido um crime

Preso com você
Preso por você
Livre sem você?

Estou em um labirinto de espelhos
Vejo sua imagem se tornar a minha
Estou perdido
Não consigo encontrar a saída

Perdido na vida
Na vida perdida?
Perdido de paixão

Estou em um hospício
Sob seus cuidados
Me seda o tempo todo
Perdi a noção do real

Louco com você
Louco sem você
Louco por você

domingo, 12 de julho de 1998

Novo Vírus

Início
Está um belo dia lá dentro
Desperdício
Lá fora passa o tempo

Oi, como vai você
Minhas amizades de "confissório"
Oi, como é você
O que me sobra fora do escritório

Inserir
Estou na era pós moderna
Excluir
A TV não será mais minha esfera

Ajuda
Preciso me levantar
Tortura
Não consigo mais andar

Digitar
Nem sei ler, como posso lhe ter
Deletar
Um mau futuro espera por você

Lixeira
Os donos do poder e as bactérias
Trincheiras
Cada vez mais profundas e cercadas de miséria

Erro
Tecnológico e social sem reciprocidade
Desespero
Chegou o novo vírus da sociedade

Sair... como?

sexta-feira, 3 de julho de 1998

Segunda Chance

No momento em que te vi
Algo forte despertou em mim
Tinha tanta coisa para falar
Mas tive medo de errar

Acabei errando
Acabei me enganando
Ao invés de resolver a questão
Preferi a omissão

Espero te ver mais uma vez
Em meio a milhões de pessoas
Espero mais uma chance, talvez
Mas o que não faço, nem Deus perdoa

Acabei errando
Acabei me enganando
Ao invés de resolver a questão
Preferi a omissão

Mas se eu te reencontrar
Eu juro que vou te falar
E se você disser que não
Eu pegarei na sua mão

Eu sei que você me quer
E sabe que não sou um qualquer
E se me disser que não sou eu quem sou...
Atrás de você eu vou.

Acabei errando
Acabei me enganando
Ao invés de resolver a questão
Preferi a omissão

quinta-feira, 25 de junho de 1998

Noites

Ei, você
Estou aqui te olhando
Tranquilo no meu canto
Mas louco para saber

Ei, você
Estamos conversando
Acho que você está gostando
Tenho chance de te ter

Há noites
Que parecem ser para sempre
Mas são apenas noites
Mas haverá aquela noite
Parecerá ser só mais uma noite
Mas que será para sempre

Ei, você
Estou te beijando
Acho que estou te amando
Pois amei te conhecer

Ei, você
Boas lembranças traz teu nome
Me dá seu telefone
Preciso te rever

Há noites
Que parecem ser para sempre
Mas são apenas noites
Mas haverá aquela noite
Parecerá ser só mais uma noite
Mas que será para sempre

Ei, você
Pensei que fosse dessa vez
Foi legal tudo o que a gente fez
Mas não vi o amanhecer...

quarta-feira, 17 de junho de 1998

Fantoche do Deboche

Enchem minha cabeça de ar poluído
Que me deixa totalmente entorpecido
Sou um decacampeão do mundo
Sou o glorioso Raimundo

Vejo crianças comendo um McLanche gostoso
Meu filho come McLixos que dão nojo
Bem que eu queria viver numa novela
Onde a irrealidade é sempre aquela

Idolatro os que ganham com minha desgraça
Sou figurante em uma farsa
Não percebo que represento o papel de otário
Enquanto eles riem e enchem o bolso de cascalho

Tenho liberdade de expressão
Mas sou censurado pela alienação
Aqui não existe pena de morte
Mas a miséria se alastra do sul ao norte

Para que minha politização
Se me basta uma pequena ilusão
Quem tem o poder na mão
Não se importa com a minha opinião

Coitados são os que crêem no que vêem
Coitados são os que não entendem o que lêem
Coitados são os que sentem pelos que mentem
Sou um fantoche do deboche

quinta-feira, 21 de maio de 1998

Constante Primavera

Por mais que se tente
Não se mente o que se sente
Pois amor e dor são semente
Do coração, não da mente

A chuva fecha o tempo
As lágrimas abrem o coração
E após esta tempestade de momento
A vida nos estende a mão

A vida é assim
Amor e dor possuem esteio
E com esses altos e baixos sem fim
Terminamos sempre no meio

A chuva vai embora
Raia o sol e uma nova era
Tentamos esquecer o antes, vivemos o agora
A vida é uma constante primavera

Carapaça

Os olhos vêem o que querem
Mas o coração vê tudo
Disfarçamos para parecermos fortes
Querendo sempre nos mostrarmos especiais

Todos possuímos um baú trancado
Que um relacionamento destranca
Por detrás de tanta pose e voz firme
Há um ser inseguro e temeroso

Acontece que um leão há de liquidar uma hiena
Ou a covardia se alastra em bandos
Não podemos nos espelhar nos outros
Identidade, personalidade, força de vontade

Se nos escondemos do medo do fracasso
Já estamos fracassando
Se ouvimos o que todos dizem
Somos os outros, não somos ninguém

Não podemos idolatrar um semelhante
Pois um mito não se faz sozinho
Tanta inteligência por baixo
Tanta mediocridade por cima

Andei pensando muito em você
Como te vi, como te vejo
Antes minha deusa, agora meu amor
Talvez você pense assim de mim

sexta-feira, 8 de maio de 1998

Incógnita

Sinto-me uma incógnita
Mudo a cada instante
Sou um adulto
Tenho recaídas de criança

Tento vencer as inseguranças
Lutando contra fantasmas
Penso ser
Às vezes não penso o que será

Dos caminhos a escolher
Muitas vezes trilho os mais complicados
Acabo me perdendo
Sempre espero me reencontrar

Não sei onde irei parar
Espero que o sol ilumine o meu caminho
E o mesmo vento que me carrega
É o mundo de sonhos que me mantém

terça-feira, 7 de abril de 1998

Andarilho

Sou um morto-vivo
Caminhando no deserto comigo
No horizonte vejo o tudo vazio
Ando pensando no nada vadio

Tenho vertigens constantemente
Isso é o que ocupa minha mente
Não me proporcionaram o real
Não sei se me sinto bem ou mal

Vejo minha casa
Mas quando me aproximo, cria asas
O deserto é meu abrigo
E nele tento fazer um amigo

Converso com os picos
Mas eles não me ouvem, também
O muro não me visitou e sozinho fico
Pois árvore aqui não tem

Vejo, depois somem os frutos
A miragem me segue no claro e no escuro
Vejo a fonte, quando a toco está seca
Sou uma escuridão acesa

Mas aqui vou seguindo
Em um lugar a cada hora
Procuro algo até o fim da história
Mas não sei o que não estou conseguindo

Não consigo me entender
Por que estou assim?
Acho engraçado o meu não ser
E o horizonte ri do meu fim

Me imagine do seu lado
Você me ignoraria
Ou de medo correria
Deste solo rachado

Sou um morto-vivo
Caminhando no deserto comigo
No horizonte vejo o tudo vazio
Ando pensando no nada vadio

Nesse deserto isolado
Só me resta este solo rachado
O meu ser nele foi enterrado
E o meu não ser não foi avisado

domingo, 1 de março de 1998

Teatro

Já era tarde
Pensava em algo para escrever
Mas a chuva forte e constante me hipnotizou
Dormi
Comecei a sonhar com as pessoas que convivo
Vi a vida como um teatro
Vi que a lança que fisga nossos corações
Possui um veneno muitas vezes cruel
Resolvi me isolar
Passei a me idolatrar
E após muito tempo de casado
Enjoei do amor que sentia por mim
Entrei em conflito
E no momento em que ia me separar de mim à força
A sol apareceu para me salvar
Acordei assustado
Sua luz ofuscava meu rosto
Fiquei acordado de olhos fechados
E é assim que sempre devemos estar
Pessoas precisam de pessoas

sexta-feira, 20 de fevereiro de 1998

Débeis

Luzes fluorescentes
Cores resplandecentes
Movimento frenético
Não analítico e sintético

Durante a jornada
A vertigem do nada
Realidade enlouquecida
Renasce a moda falecida

Cultura do novo
O que vem deste ovo?
Mais e mais nunca é demais
Nos acostumamos a sermos virtuais

Onde foi parar o nexo?
O que era simples ficou complexo
Conceitos mudam a toda hora
O que era fato virou flato agora

Muito além do necessário
O fútil se tornou arbitrário
Ideologias estéreis
Atitudes débeis

sexta-feira, 6 de fevereiro de 1998

Vazio

Corridas intempestivas
Contra fábulas nativas
Vezes distante, vezes perto
Desequilibrando no incerto

Na saída do labirinto
Não há absolutamente nada
O que existia está extinto
Não há mais porta de entrada

Eis uma grande iluminação
Que aumenta ou cega a visão
E chove a brasa incandescente
Queimando no inconsequente

Olha-se para dentro
Sente-se por fora
E o que parece no centro
Foge universo afora

O que se esperava?
Onde estava?
Lá vem a água do rio
Desaguando no vazio